FERNANDO ECHEVARRÍA
dois poemas
(in Epifanias, Afrontamento, 2006)


Articulava-se no verbo. E vinha
desenvolver seu movimento claro,
precisamente na superfície lisa
onde inscrevia o eco só de espaço.
Os músculos escritos instruíam
simulações, vazios simulacros
que, contudo, rumava por um dia,
muito mais do que concreto, abstracto.
Mas, o mais admirável era ainda
a luminosidade de os seus passos
ir assentar naquela terra viva,
que vive em si. E esquece o tempo nado
da lucidez acústica da escrita
para impor outro que refunda o espaço.


*


Certo silêncio sedimenta. Quase
se lhe confunde a extensão de olvido.
De ambos, às vezes, surde a frase
com tão intensa exactidão de brilho
que sabemos que vem. Mas ninguém sabe
de que se fez o antes de ter vindo.
O que é claro, contudo, é que vem dar-se
quando, o negrume exterior extinto,
o tempo fica a sustentar a frase.
E a frase punge o seu esplendor mais vivo.


"[...] Echevarría é um poeta sem concessões nem modismos, comprometido com as palavras e as ideias, algumas das quais só existem plenamente quando alcançam uma expressão poética exigente. / [...] Uma poesia que é mais concreta que as coisas concretas, porque delas retira a sua essência [...]." - PEDRO MEXIA in 6ª/DN, 14/4/06

1 comentário:

indah disse...

Sabes qué, Ruy? No he entendido nada :) Es culpa mía: hoy estoy cansadina y eso hace que no quiera esforzarme en entender. Y me alegra que haya sido así. Cuando no se entiende la 'letra' se presta más atención a la música (bueno, eso creo :)

Como siempre: gracias.