Nicolau Saião

É assim que se faz a Estória

Existe numa cidade alentejana um estoriador de gabarito: o Prof. José de Pitta Raposo.
Uma lenda maliciosa tem tentado estabelecer que este homem de estudo não existe.
Estamos em condições de infirmar essa arbitrária congeminação. Pitta Raposo é bem real. E os seus livros provam-no à saciedade.
Descendente de uma das mais excelsas famílias lusas, os Azeredos Curitiba, Pitta Raposo deu à estampa diversos tomos de alto valor cerebral.
Começando por uma pequena homenagem ao seu trisavô (Anatólio Raposo, cozinheiro inspirado e patriota) incursionou depois pelo memorialismo com Memórias de Antão Raposo, meu primo em terceiro grau, o qual lhe valeu elogios do renomado crítico espanhol Juan Capullo Follante e do também historiógrafo local A. Tadeu Rabecaz.
Além de outros mais, cheios de originalidade e robustez (a saírem) e tendo sempre como protagonistas personalidades da sua multifacetada família.
O poeta e titular Alfonso Bilharoz de Moncada, grande amigo de Raposo, dedicou-lhe este poema assumidamente laudatório - o que não lhe retira valor descritivo e lírico como se poderá comprovar pela sua leitura.


Perfil

É arteiro como um cigano
elegante e donairoso
- um magnífico fulano
o grande Pitta Raposo!

Melífluo e insinuante
dá de si boa impressão
e embora seja um tunante
é um belo cidadão!

Sabe aguentar a parada
para levar tudo a eito
- entra em qualquer titarada
desde que lhe dê proveito.

Um fidalgote fogoso
mexido até dizer basta
- o grande Pitta Raposo
o que ele gosta da pasta…

Com a mão esquerda arrebanha
com a direita arrebata.
O que faz falta é ter manha,
o que é preciso é ter lata!

É real homem de bem
nada há que lhe não valha:
pois seguro prestígio tem
entre outros da mesma igualha

Mesmo sem obra imponente
que o venha a cobrir de louros
vai deixar um nome ingente
aos lusitanos vindouros

e a Estória registará
o seu nome valoroso
mesmo sendo a escrita má.
- E viva o Pitta Raposo!

(ilustração de Nicolau Saião)

4 comentários:

Anónimo disse...

Mas é um ou são dois?! Não são dois? O "careca rápido" e o "bonitão dos tremeliques? Ó Nicolau, fez uma condensação seu maroto. Nós percebemos, mas que está boa, está.

Anónimo disse...

Bom, já se percebeu que o "Estrada do Alicerce" resolveu iniciar o chamado tiro em leque.
Já não era sem tempo!
E o Nicolau, passada a depressão em que segundo soube andou enfronhado volta em forma. Quem o ouviu há uma semana atrás na palestra que lhe coube, não tem agora dúvidas. O homem fez sangue mas com classe.
Queria pedir aos "atiradores" que não abandonem o acerto lírico e cultural e ponham as coisas em pratos limpos que Portalegre bem precisa. Mas não se limitem aos vigaristas por muito merecedores de escárnio que sejam, vão mais fundo. Abordem por exemplo o caso dos polícias denunciados pelo próprio comandante, já lá vai tempo, caso tão badalado mas que parece ter-se esfumado. Já lhe fizeram uma cover up? Queremos respostas, senhoras autoridades!

Anónimo disse...

Pelo que depreendo essa cidade tem muito de estranho. Não conheço apesar de já ter estado em Elvas várias vezes, mas vou pelo lado de Estremoz e depois meto directo por Vilaboim dado que fica mais a jeito.
Sugiro a Ruy Ventura, se puder ser, que ponha aqui uma espécie de antologia de poetas alentejanos, confesso conhecer mal a vossa literatura.

Anónimo disse...

O amigo Amândio não ponha muitas esperanças em eu atirar em leque, como diz. Isto foi só um desabafo...poético de sexta-feira.
Ná, não estive com nenhuma depressão. Afastei-me foi um pouco de universos interactivos, porque o cansaço físico por vezes estorva-nos. E o afastamento que terá notado das coisas citadinas tem sido mesmo por viver um bocado por outros lugares exteriores...e interiores. É muito salutar.
Em todo o caso obrigado pelo seu interesse.