JOSÉ DO CARMO FRANCISCO


As flores estão sempre frescas


As recentes antevisões e notícias da aproximação de furacões e de tempestades tropicais perto das diversas ilhas dos Açores trouxeram-me a memória de uma outra tempestade mas esta no Rio Tamisa. Foi no dia 20 de Agosto de 1989 que o navio Marchioness naufragou no rio que atravessa Londres muito perto da catedral de Southark. Nesse terrível desastre perderam a vida dois portugueses – António Vasconcelos e Domingos Vasconcelos. O primeiro tinha 26 e o segundo 28 anos de idade. Claro que nada acontece por acaso e eu descobri esta tragédia que me comoveu pela simples razão de que a minha filha mais velha viveu alguns anos no bairro de Southark. Nada me liga a essas pessoas que perderam a vida no seu ponto talvez mais esperançoso e bonito – o caminho da maturidade. Em termos mais ou menos simples são estes os quatro primeiros estádios da nossa vida. Os sete anos marcam a saída da primeira infância, os catorze a entrada na adolescência, os vinte e um a entrada na idade adulta e os vinte e oito a chegada à maturidade. Nada me liga de modo directo mas tudo afinal me sugere uma aproximação. Porque todos falamos português, porque somos todos membros da família da humanidade. Quem sabe se eles não eram açorianos; há muitos Vasconcelos nos Açores.
Resolvi fazer as férias de 2006 na cidade de Londres. Foram vinte e quatro longos dias que me custaram os olhos da cara. Em Londres é tudo caro a começar pelos cafés. O ano de 1989 não foi assim há tanto tempo. Às vezes parece que foi ontem. No passado mês de Agosto lá estive na Catedral de Southark para lhes prestar a minha discreta homenagem. E uma vez mais reparei que as flores estão sempre frescas.

1 comentário:

Luis Eme disse...

Este texto não merece grandes comentários... porque as flores estão sempre frescas...