O QUE MAIS CUSTA

O que mais custa em todo o processo de revisão do Estatuto da Carreira Docente não é a sua dureza, mas a falta de verdade em que muitos dos passos se baseiam.
Todos sabemos que o país não está financeiramente bem; logo, aceitaríamos os sacrifícios se os víssemos distribuídos com equidade por todas as camadas sociais e por todas as profissões, a partir de exemplos inequívocos vindos dos governantes. Mas nada disto tem sido feito. Retira-se aos mais frágeis para dar aos mais fortes, não havendo qualquer hesitação quando se trata de mentir aos portugueses ou quando se recorre à difamação de amplos sectores da administração pública.
No caso dos professores, trata-se ainda de uma estratégia pensada para torná-los bodes expiatórios do insucesso do sistema educativo, quando ao longo de décadas têm sido apenas agentes aplicadores (e pouco decisores) de políticas que sabem de antemão improdutivas ou, até, destrutivas dos alicerces da qualidade das aprendizagens. E assim se camuflam três décadas de deriva governativa que, em gradação crescente, têm conduzido a uma enorme irresponsabilização dos alunos, produzindo o desastre em que estamos mergulhados.
Há decerto maus profissionais entre os professores, como em qualquer profissão. Necessitamos de uma avaliação rigorosa do desempenho que promova os bons docentes e penalize os maus sem, no entanto, decidir à partida, de forma economicista, quantos podem atingir a excelência. Não existe, contudo, o direito de nos humilharem como se fôssemos lixo, como estratégia para a criação de uma classe docente dócil e barata, estratégia que pouco se preocupa com as consequências nefastas que tudo isto terá no real sucesso educativo dos alunos e do sistema.

Sem comentários: