VALE DOS HOMENS
António Pedro,
meu avô
desapareceu a partir dessa janela.
a pele liquefez-se. a voz procurou
água que conseguisse desenhar
as ervas, o arco que divide o mundo.
o olhar perde-se por entre as árvores.
vaza a vista, a cor da madeira, o cabelo
que semeaste na escada.
distante a horta, o poço, o canto do lume.
o vento grava neste porto
a navalha que nos corta as veias.
subia procurando um rosto,
um dedo apenas, os frutos desta
e de outra terra.
desapareceram a partir desta janela
a pele, a voz, o olhar, a cor, a manhã.
o elevador pára. perde-se
neste porto
a alegria da viagem
(sem retorno).
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