JOSÉ DO CARMO FRANCISCO


O tempo das antigas emoções

Hoje folheei um livro de Marina Tavares Dias cujo título é Sporting Clube de Portugal – Uma história diferente. O facto de folhear o volume, página a página, fotografia a fotografia, leva-me a pensar como deve ter sido difícil fazer um trabalho de 320 páginas contando hoje a história de um Clube fundado em 1906. No passado, no passado de todos nós, havia poucas fotografias. Quem tirava retratos era quase sempre em ocasiões especiais. Ia-se ao retratista que tinha um estúdio decorado com motivos próprios para cada idade: crianças, adolescentes, militares, noivos, bodas de ouro. Havia menos fotografias mas havia mais emoções. Viajava-se menos mas liam-se muitos livros de viagens.
Aqui há tempo soube de uma história deliciosa passada nos anos quarenta com o escritor Dinis Machado e o seu pai, o jornalista Oliveira Machado. O pai levou o filho à Rua Jardim do Regedor para lhe mostrar a Sala de Troféus do Benfica. Pensava o dito senhor que a criança, depois de ter levado um banho de taças, troféus e medalhas, acabaria por se render ao Benfica, mas não. Questionado pelo pai, o jovem Dinis Machado afirmou com toda a força da simplicidade: «Pai, sou do Sporting porque apertei a mão ao Jesus Correia!» Era a força das emoções e o pai do jovem Dinis, apesar da sua força de pai e de ser o dono do restaurante «Farta Brutos», nada conseguiu do filho que já estava desde pequenino vacinado para ser um grande sportinguista. Hoje os miúdos têm tudo desde as play station a toda a espécie de brinquedos. Os miúdos do passado tinham a força das antigas emoções, as chamadas emoções para toda a vida. E para além da vida. Jesus Correia já morreu mas Dinis Machado continua a ser «leão».

2 comentários:

Luis Eme disse...

Pois é, no passado (e não é preciso recuar 100 anos, 30 bastam...), davamos valor a pequenas coisas, como o aperto de mão de um campeão como o Jesus Correia...
Como as coisas mudaram desde Abril!
Um abraço para o Zé do Carmo Francisco e outro para o Dinis Machado.

Anónimo disse...

Zé, encanta-me o teu afecto pelo teu clube, prque no-lo apresentas com um olhar límpido, fraterno e pueril. São os teus olhos. A valia do teu clube é para mim, essa. Porém, aquilo que eram há 30, 40 anos os clubes,- espaços de encontro, de convívio e de crescimento, onde se fazia desporto e se promovia a cultura, se resistia ao fascismo ou se construia a democracia - são hoje, para os seus dirigentes, meios excelentes para levarem a cabo a negociata mais banal ou o negócio mais vil e obscuro (basta olhar à volta). Do clube saltam para a política, se forem mais toscos, nas listas dos partidos, se mais ardilosos, manobrando-os.
Desculpa o desabafo