LI E CONCORDEI COM...

FERNANDO SAVATER

“[...] Os medievais falaram com razão de dois tipos de liberdade política: a libertas a coacione, que nos emancipa da tirania que impede participar igualitariamente na gestão da coisa pública, e a libertas a miseria, que salva das imposições infligidas pela falta de recursos no mundo do ‘tanto tens, tanto vales’. Em demasiadas ocasiões, é a miséria (económica ou cultural) que condiciona inevitavelmente a submissão de muitos a tiranias ‘democráticas’ impostas pelos beati possidentes. Hoje em dia, provavelmente as maiores diferenças entre os livres de facto e os livres só de nome são estabelecidas pelo acesso à informação: para ser livre é preciso ‘saber’ mais do que aqueles que não o são e controlar os meios de ‘comunicação’ para difundir tanto o conhecimento como as falsificações interesseiras que geralmente ocupam o seu lugar...”

(in A Coragem de Escolher, 2003)

2 comentários:

Luis Eme disse...

Também concordo com Savater, as grandes diferenças entre os "livres" (verdadeiros/falsos) está na possibilidade de terem acesso ou não ao conhecimento. Claro que este não é um problema de hoje, o nosso conterrâneo Oliveira Salazar sabia bem do que Savater nos fala... por isso é que criou tantos condicionalismos e dificuldades nos acessos ao conhecimento em Portugal, durante o tempo que governou.

Ruy Ventura disse...

Infelizmente, pelo menos no tempo de Salazar sabiamos que estávamos a braços com uma ditadura, com todas as suas características. No nosso tempo, para além dos regimes em que não há liberdade de expressão, somos todos os dias bombardeados com manipulações da verdade mais objectiva, vindas tanto do poder político quanto doutros poderes menos legítimos que visam, pura e simplesmente, anular a liberdade humana e o livre arbítrio. Veja-se, por exemplo, as mentiras branqueadoras do terrorismo ou as mentiras do nosso governo, usadas para achincalhar o bom-nome de vários grupos profissionais (que são chamadas "corporações" para integrá-las abusivamente no "estado corporativo" salazarento, quando apenas estão a defender os seus interesses legítimos).